Jesus entre os doutores do Templo, de Paolo Verenose. Óleo sobre tela
Embora tenha tido alguma melhora, mesmo que mínima, os brasileiros em geral "perecem por falta de conhecimento"¹. Recentes estudos demonstram que o nível de conhecimentos básicos entre brasileiros tem índices baixos, ou apresentam incoerências que deveriam ser impossíveis, como considerar a língua oficial do país o "brasileiro"². A nossa sociedade, por conta do peso de impostos, e a necessidade do trabalho para sobreviver (em vez de viver), também são fatores que impedem o intelectualismo tenha algum valor entre cidadãos comuns, ou que tenha até uma atitude hostil a busca pelo conhecimento, considerando-a uma perda de tempo. E isso certamente se reflete nos cristãos brasileiros.
Embora muitos entendam a importância de conhecer mais o Senhor e suas ordenanças, poucos de fato o buscam na medida devida. Isso piora ainda mais se tratando da defesa da fé ante aos descrentes ou a simpatizantes do cristianismo. Embora a experiência individual seja um fator crucial, é vital também para os cristãos maduros conhecerem a história da Igreja, a aprenderem a utilizar da razão para defesa da fé e para serem influenciadores nos campos de estudo diversos. Mesmo que não "sejamos deste mundo", estamos fazendo parte dele neste momento da história. Faça um teste mental aí com você, respondendo um questionário bem simples. Os itens abaixo se referem a assuntos que qualquer cristão maduro deveria ser capaz de identificar. Responda mentalmente com uma frase para cada item, para ver se possui um conhecimento mínimo do tema. Exemplo: se tivesse o item "Leandro Subirá", você responderia "pregador ou pastor brasileiro". Vamos lá? (Responda na enquete logo em seguida quantas você conseguiria responder)
Teste:
Agostinho
Trindade
Duas naturezas unidas numa pessoa
Reforma
Martinho Lutero
Expiação substitutiva
Pais da Igreja
G.K. Chesterton
Charles Spurgeon
Guerra dos 30 anos
Quantos itens você saberia responder?
0%Entre 1 e 3 itens
0%Entre 4 e 6 itens
0%Entre 7 e 8 itens
0%Entre 9 e 10 itens
Devemos ser capazes de contribuir intelectualmente nas ciências, nas artes e no mundo corporativo, de forma semelhante ao que tentamos ser quando estamos em contexto de igreja. A fé cristã se tornou algo irrealista ou irracional no ambiente universitário porque não demos a devida atenção a esses campos nos últimos anos, abrindo espaço para atitudes cada vez mais secularizantes. Devemos entender que o cristão tem o dever de contribuir para a sociedade em geral, assim como ele contribui para os irmãos em Cristo. Certamente sem o Espírito Santo convencer, nenhuma argumentação valerá, mas usar da razão para defender a sua fé e participar de outros campos e profissões, contribuindo para algo em sua comunidade, também tem um impacto positivo de testemunho, se tornando assim um filho de Deus exercendo algo que vai além do seu próprio círculo, da sua zona de conforto.
Para influenciar essa mudança, te convido leitor a conhecer o que é a apologética, e como usar deste ramo da teologia para impactar muito mais seu testemunho.
A apologética é opcional ou uma ordenança de Deus?
Segundo o apóstolo Pedro, o exercício da apologética é uma ordenança por parte de Deus:
Antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder (apología) com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós (1 Pedro 3:15)
A apologética muitas vezes é vista como algo desnecessário para a vida do cristão. Algo que muitas vezes beira a uma espécie de “lazer” cristão. Mas a Escritura é clara ao dar valor a esse estudo.
O que é apologética?
Segundo o doutor em teologia William Lane Craig, "apologética (do grego apologia, "defesa") é o ramo da teologia cristã que procura apresentar uma explicação racional para as verdades afirmadas pela fé.³
Para que serve a apologética?
Baseado em alguns teólogos e filósofos, a apologética possui quatro funções:
Evangelismo – Existe uma ideia popular entre os cristãos de que a apologética não é útil ou viável para o evangelismo e normalmente é manifesta através do conhecido pensamento “Argumentos não convencem ninguém”. Contudo, a própria Bíblia mostra claramente o contrário: em uma passagem no livro de Atos, o apóstolo Paulo passou três sábados discutindo com judeus de uma sinagoga em Tessalônica sobre as escrituras e a veracidade de Jesus como o Cristo. O resultado da sua argumentação foi o seguinte:
E alguns deles creram, e ajuntaram-se com Paulo e Silas; e também uma grande multidão de gregos religiosos, e não poucas mulheres principais. - Atos 17:4
Defesa da Fé – Como o nome já indica, a defesa é o ato de dar uma resposta racional e bem fundamentada sobre a veracidade da fé cristã em momentos onde ela é questionada.
Fortalecimento da Fé – O cristão caminha por ambientes hostis a sua fé diariamente. Se não for bem fundamentado, pode acabar esbarrando em questões que o colocarão em dúvida. Os jovens são um grupo muito afetado por isso: seja no meio escolar ou com amigos, o jovem é bombardeado por dúvidas, escolhas e informações que poderão abalar o mesmo se ele não for preparado. A apologética acaba sendo uma ferramenta poderosa no auxílio e fortalecimento da fé, sanando questionamentos e nos preparando para o dia a dia.
Formar a Cultura – Uma das funções da apologética é transformar o ambiente cultural em que vivemos para que o cristianismo se torne mais uma vez uma escolha racional e viável. É uma maneira de auxiliar no trabalho evangelístico da igreja e poder provocar grandes transformações na sociedade. Por que a cultura merece atenção? Pelo simples motivo de que o evangelho nunca é ouvido isoladamente. Ele sempre é acompanhado de um pano de fundo cultural. Um exemplo é o trabalho missionário de Paulo em meio aos gregos.
Conclusão
Através disto, podemos concluir de que a apologética está em pé de igualdade com relação a outros métodos de evangelismo, como o testemunho ou louvor. Ela é uma ordenança que foi deixada de lado por vários cristãos que muitas vezes baseiam seus conhecimentos em frases de efeito ou jargões evangélicos do que em informações concretas. Apologética é uma ferramenta incrível que tem o poder de abençoar a vida de fé do discípulo e de ser usada pelo Espírito Santo para alcançar vidas. Ela é uma ordenança e um instrumento benéfico para a Igreja.
Respostas do Teste:
Agostinho: pai da igreja (354-430), autor da obra Cidade de Deus, que enfatiza a graça imerecida de Deus
Trindade: doutrina de que, em Deus, há três pessoas em um ser (Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo)
Duas naturezas unidas numa pessoa: doutrina afirmada no Concílio da Calcedônia (451), que confirma a natureza divina e a natureza humana de Cristo.
Reforma: evento que teve estopim em 1517, com as 95 teses de Martinho. Lutero, contrariando os ensino católicos daquela época, afirmando a gratuidade da salvação mediante a fé, e a autoridade exclusiva da Palavra. É deste evento que surgem os chamados cristãos protestantes.
Martinho Lutero: monge cristão agostiniano (1483-1546) que deu início à Reforma Protestante.
Expiação substitutiva: doutrina que afirma que a morte de Cristo em nosso favor e em nosso lugar nos possibilitou a reconciliação plena com Deus.
Pais da Igreja: cristãos influentes do período pós-bíblico até o sexto século, que- escreveram e exerceram liderança na Igreja.
G.K. Chesterton: apologista cristão, escritor inglês e crítico literário e de artes (1874-1936), conhecido pelos livros A Ortodoxia e O Homem Eterno.
Charles Spurgeon: pregador inglês batista (1834-1896), sendo sua obra extremamente influente no protestantismo contemporâneo.
Guerra dos 30 anos: Consequência da Reforma, foi um conflito armado continental entre nações protestantes e católicas da Europa (1618-1648).
Referências:
1. "O meu povo foi destruído, porque lhe faltou conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; e, visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos." (Oseias 4:6. Versão Almeida Corrigida Fiel da SBTB)
3. Apologética Contemporânea: A veracidade da Fé, de William Lane Craig. 2ª ed. São Paulo: Vida Nova, 2012.
4. Apologética para Questões Difíceis da Vida, de William Lane Craig. São Paulo: Vida Nova, 2010.
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