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  • Piratini Monarquista

Como sei que o cristianismo é verdadeiro?


Provavelmente todo aquele que se diz cristão já deve ter se feito essa pergunta. Para um cristão de facto, a experiência ou insight individual já corrobora a questão. O problema começa quando somos confrontados por alguém que não crê em Deus ou é seguidor de outra religião. Muitas vezes não estamos preparados para apresentar argumentos, ou testemunhar nossas experiências individuais com o Senhor. É importante que saibamos responder com a devida medida, para que também possamos sanar nossas próprias dúvidas durante a caminhada de fé.


Como cristão, para responder a pergunta deste título, temos que estudar duas coisas: o papel do Espírito Santo e o papel das provas e argumentos.


Espírito Santo


Segundo Henry Dodwell¹ e Alvin Plantinga², para sabermos que o cristianismo é verdadeiro, devemos ter acesso ao testemunho do Espírito Santo de Deus que autentique isso. Conforme William Lane Craig diz:


"Quero dizer que a experiência do Espírito Santo é verídica e inconfundível (apesar de não necessariamente irresistível ou indubitável) para quem a tem; (...) essa experiência nos proporciona não apenas uma certeza subjetiva da veracidade do cristianismo, mas também o conhecimento objetivo dessa verdade: e que argumentos e evidências incompatíveis com essa verdade são superados pela experiência do Espírito Santo para aquele que se rende totalmente a ele."


O papel de argumentos e provas


Já que vimos que o Espírito Santo é que dá, no final das contas, a certeza da veracidade do cristianismo, podemos entender que os argumentos e provas possuem um papel secundário.

Para Martinho Lutero, a razão possui duas formas de uso: magisterial e ministerial:





William Lane Craig aponta:


"À luz do testemunho do Espírito, somente o uso ministerial da razão é legítimo. A filosofia é apropriadamente serva da teologia. A razão é uma ferramenta para nos ajudar a compreender e defender melhor a nossa fé: como disse Anselmo, temos uma fé à procura da compreensão. Aquele que sabe que o cristianismo é verdadeiro com base no testemunho do Espírito também pode ter uma boa apologética, que lhe reforça ou fortalece o testemunho do Espírito também pode ter uma boa apologética, que lhe reforça ou fortalece o testemunho do Espírito, mas ela não serve de base para a sua fé. Se os argumentos da teologia natural e as evidências cristãs são convincentes, então a fé cristã é garantida por tais argumentos e evidências para essa pessoa que os compreende, ainda que essa pessoa estivesse garantida na ausência deles. Tal pessoa está duplamente garantida na sua fé cristã, no sentido de que desfruta de duas fontes de garantia."


Considerando isto, sem a ação autenticadora do Espírito Santo, certamente nunca se obterá a certeza da veracidade. No entanto, embora o saber seja papel de Espírito, certamente está em nossas mãos o demonstrar argumentos e provas, e uma boa forma de elaborar isso são através de dois tipos de raciocínio: o dedutivo e o indutivo.


No argumento dedutivo correto, " a conclusão decorre inevitavelmente das premissas. Os dois são pré-requisitos de um argumento dedutivo correto são que as premissas sejam verdadeiras e que a lógica seja válida".


Um exemplo de argumento dedutivo correto:


  1. O ser humano é racional;

  2. Você é um ser humano;

  3. Logo, você é racional.


Esse é um argumento em que as premissas 1 e 2 levam a conclusão final. Só temos que nos atentar nesse tipo de argumento para cometer falácias ou defeitos. Um exemplo que Craig demonstra é o seguinte:


  1. Se Jesus não fosse Senhor, ele seria um mentiroso ou lunático;

  2. Jesus não foi nem mentiroso nem lunático;

  3. Logo, Jesus é Senhor.


"Esse é um argumento válido (...), contudo, o argumento mesmo assim é defeituoso, porque a primeira premissa é falsa: existem outras alternativas não mencionadas, como, por exemplo, que o Jesus descrito nos Evangelhos é uma lenda. Por isso, ao apresentar um argumento dedutivo em favor de alguma verdade cristã, precisamos tomar o cuidado de construir argumentos logicamente válidos e com premissas verdadeiras."



No argumento indutivo, as premissas são verdadeiras, mas a conclusão não possui 100% de certeza e fechada, ou seja, a conclusão é plausível ou provável. Eis um exemplo:


  1. Os grupos A, B, e C são compostos de pessoas semelhantes que sofrem da mesma doença;

  2. O grupo A recebeu certo medicamento novo, o grupo B recebeu um placebo, o grupo C não recebeu tratamento algum.

  3. A taxa de mortalidade da doença foi 75% mais baixa no grupo A em comparação com os grupos B e C;

  4. Logo, o novo medicamento é eficaz para reduzir a taxa de mortalidade da doença em questão.

Neste caso, a conclusão é provavelmente correta, com base nas evidências apresentadas e no raciocínio, mas não é 100% verdadeira, pois neste exemplo, os integrantes do grupo A podem só ter tido sorte, ou alguma variável pode ter interferido. Esse tipo de argumento, embora tendo um nível de incerteza, é muito útil e utilizado na filosofia clássica.


Conclusão


Para responder a pergunta do título desse artigo, temos de diferenciar entre saber que o cristianismo é verdadeiro e demonstrar que ele é verdadeiro. O saber sempre virá pelo testemunho autenticador do Espírito Santo, enquanto que o demonstrar vem de nós apresentarmos bons argumentos a favor dos pilares principais.


No entanto devemos observar duas coisas ao apresentar nossos argumentos:


a) no que tange ao Espírito, também deve ser colocado a prova, como diz em I João 4:1-3:


"Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já agora está no mundo."


b) no que tange aos argumentos, assim como temos que nos atentar e não apresentar argumentos fracos, ou falaciosos, também temos que entender se a pessoa que está nos ouvindo realmente está aberta sinceramente, ou se apenas tem uma atitude acusatória. Não se frustre se tais pessoas virem até você; embora o chamado exista para todos, são poucos o que pegam a porta estreita.



Notas:

1. Henry Dodwell foi um filólogo, historiador e teólogo irlandês, que viveu entre 1641 e 1711.

2. Alvin Plantinga é um filósofo e epistemologista cristão nascido nos Estados Unidos.

3. Trechos deste artigo retirados do livro Apologética Contemporânea: A veracidade da fé cristã, do filósofo e teólogo cristão estadunidense William Lane Craig.

4. Quadro utilizado na introdução deste texto chama-se A Incredulidade de São Tomé, de Caravaggio (cerca de 1601-1602).


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